quinta-feira, 7 de julho de 2016

Princípio da gradualidade, regra ardilosa do progresso do mal

Desejamos hoje pôr em evidência um dos princípios mais essenciais do triste roteiro seguido pelo Ocidente, partindo de suas tradições culturais e sociais cristãs, para o paganismo total, do qual já se acha tão próximo.

Trata-se do princípio que chamaríamos da "gradualidade". A corrupção, em sua longa marcha vitoriosa não fez saltos. Pelo contrário, soube progredir por etapas tão insensíveis que ninguém, ao longo da trajetória, prestava atenção ao deslizar das idéias, dos costumes e das modas. E com isto o caminho percorrido docilmente pela humanidade foi imenso...

A maior parte dos costumes lamentáveis de nossos dias apareceu timidamente no século XIX. Publicaremos oportunamente a descrição dos primeiros banhos de mar a que começou a se afeiçoar a alta sociedade francesa ainda antes da revolução de 1830, acompanhando-a do material ilustrativo competente. O termo de comparação, que seria o maillot de banho absolutamente moderno, não o poderemos publicar, pois já "evoluiu" tanto que macularia as páginas de um jornal católico. Quem tivesse dito às nobres e discretas damas que em plagas francesas iniciaram a moda, como se banhariam as elegantes de 1920 por certo lhes teria causado muita surpresa. E talvez, para evitar tais excessos, tivessem elas, até, suspendido o costume ainda incipiente. E o que diriam por sua vez em 1920 as elegantes, se pudessem ver como elas próprias ou suas filhas e netas tomariam banhos de mar e de piscina em 1956? Provavelmente, esta antevisão teria suscitado nelas uma reação salutar. Mas, como ninguém previa tais excessos, a moda continuou seu curso. Em 1956, é-nos lícito perguntar: como estarão as coisas em 1986?

Nenhum princípio nos parece mais importante de difundir, do que este da gradualidade das transformações da moda, se queremos despertar uma reação que já tarda...

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Hoje trataremos mais especificamente da masculinização da mulher, fenômeno absolutamente tão deplorável e ridículo quanto seria a efeminação do homem.


Nossa primeira gravura representa duas senhoras, muito jovens, e uma menina, em um interior confortável de há cerca de cem anos atrás. O ambiente em que se movem é caracterizado por uma certa gravidade.

As cortinas são espessas, a cadeira é grande e nobre, o cachepot de linhas distintas e robustas tem apuradas decorações, um belo tapete cobre todo o chão. Mas ao mesmo tempo os coloridos são alegres. As cortinas são de um verde muito claro, quase verde esmeralda, a senhora sentada, que é evidentemente uma visitante, traja um belo vestido de um verde musgo do outono europeu, e seu casaco tem borda de pele castanha. À cabeça, traz algumas flores. A senhora de pé veste-se de seda dourada brilhante. A menina tem um vestido azul, ornado com belas pregas. São dessa mesma cor as fitas que lhe ornam o cabelo e lhe pendem das tranças. Este misto de gravidade e graça caracterizava bem o ambiente da vida de família de outrora. Nele, a mulher podia expandir em toda sua amplitude, as preciosas qualidades típicas de seu sexo, a doçura, a afabilidade, a graça, a bondade e a distinção. As fisionomias das três pessoas em nosso clichê estão distendidas, plácidas, e impregnadas de afetividade, indicando um convívio marcado a fundo pelo que tem de mais suave a delicadeza feminina. Elas parecem encontrar-se como no elemento próprio para a prática natural e como que instintiva dos deveres cristãos da esposa, da mãe e da filha.

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Mas pouco depois a masculinização começava, timidamente, embora. Nas duas jovens do segundo clichê, há um começo de audácia, de dureza, de atrevimento, que contrasta com o quadro anterior. Tem-se a impressão de que algo de muito profundo -se bem que ainda muito discreto - se desajustou dentro delas, relativamente à vida do lar. Esta lhes parece um tanto insípida. Há um gosto manifesto de viver na rua, enfrentando imprevistos, passando por peripécias, levando enfim uma vida que já não é inteiramente voltada para os prazeres castos da família, e em cujo teor os momentos mais agradáveis são os que se empregam passeando como anônimos na multidão. Um que de masculino nos chapéus, no corte dos vestidos, e sobretudo na fisionomia dos personagens o diz bem.


Uma jovem moderna, num ambiente moderno. Não tivesse compridos os cabelos, e não seria fácil dizer-se-lhe à primeira vista o sexo. Ela respira por todos os poros o gosto da aventura, da luta dentro de uma vida que em nada se diferencia da de um homem, e que exige o cultivo de qualidades tipicamente masculinas. Um pouco mais, e a masculinização terá sido levada tão longe quanto possível.

Mas, dirá alguém, que mal há nisto?

É fácil responder. O mesmo mal que haveria em que os homens de hoje se penteassem, se vestissem e vivessem como as damas de nosso primeiro clichê.

Pura e simplesmente uma monstruosa subversão da ordem natural.

(Plinio Corrêa de Oliveira, Catolicismo Nº 68, Agosto de 1956)

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